"Acredito que Juncker vai surpreender a Europa"
O que é que a crise na Ucrânia e os referendos escocês e catalão nos dizem sobre a Europa?
É melhor perguntar o que estão a dizer à Europa. O conflito na Ucrânia devia recordar à Europa como tem sido irresponsável nos últimos 50 ou 60 anos ao não levar a sério a sua política de defesa. Transferimos essa responsabilidade para os EUA e temos vivido convictos de que, se algo grave suceder, podemos contar com os americanos. E acabámos por nos encontrar numa situação em que a possibilidade de garantir a nossa segurança é lamentável. A Ucrânia veio recordar-nos que abdicámos da responsabilidade coletiva da nossa defesa.
Como disse um dia: a Europa tem de analisar o que é e o que quer ser e como deve lidar com a sua responsabilidade global. É isto?
Nós temos democracias, e para essa mudança suceder são necessárias duas condições. A primeira é uma opinião pública mobilizada. Isto é tão ou mais importante quanto nós somos vítimas do nosso sucesso por termos tornado a guerra algo impensável. Nem dizemos que há uma guerra na Ucrânia, falamos em crise. É verdade que, para nós, no interior da UE, a guerra é impensável. É por isso que se torna tão difícil mobilizar a opinião pública em torno da defesa e segurança. São áreas que a opinião pública não leva a sério. A segunda é que só podemos falar a sério em defesa e segurança se o fizermos ao nível europeu. Ora, hoje, o estado de espírito da opinião pública é "não queremos mais integração europeia". Em suma, falta apoio democrático para se avançar neste campo.
A reforma das instituições e do modo de funcionamento da UE poderia ser útil neste ponto?
Sim. E estou otimista, pois acredito que Jean-Claude Juncker vai surpreender a UE e os europeus. É uma pessoa com experiência, não está a pensar numa eleição futura, já foi primeiro-ministro, já fez praticamente tudo. Conhece as pessoas; é um negociador experiente. E tem ideias. Já o demonstrou com o modo como organizou a nova Comissão. Está claramente hierarquizada, com sete vice-presidentes, bem estruturada, já definiu prioridades. Isto é novo. E pode fazer a diferença.
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